A remote worker between freedom and loneliness
'In remote work, I can set my schedule, work from anywhere, and choose projects, but the lack of social interaction bothers me'
I have mentioned a few times in this newsletter that there are two types of people: those born to work remotely and those who prosper in an in-person environment. But what about those who were led into this life somewhat by chance? That's the story journalist Carolina Muniz shares in this edition of No Direction Home.
Working as a freelance journalist was never my desire. I edited a section on entrepreneurship for about two years, but I was never inclined to work independently.
I always enjoyed the sense of belonging and the relative stability of being an employee—even in a media company where mass layoffs were always looming.
At the end of 2021, in a pandemic context, everyone was working remotely when I was able to move to Brasília to be with my boyfriend, who had received a job offer in the federal capital. I suggested to my bosses that I would return to São Paulo frequently to stay in touch with the team.
However, there was a requirement for a total return to in-person work, so I resigned. I revived some contacts and started working as a freelancer. The idea was to be a Plan B while I adjusted to the new city, but it's been almost two years.
There are many advantages:
setting my schedule
working from anywhere
the freedom to accept or decline projects
diving deep into different subjects every hour
living a less stressful routine
There are also significant disadvantages, such as not having employment benefits and never having complete certainty about when the next job will come. But what really bothers me the most is the lack of social interaction.
During the pandemic, I had already experienced this. On the one hand, it was more challenging due to the impossibility of leaving the house and meeting friends (aside from the human tragedy). On the other hand, at that time, I was still part of a team with whom I interacted all day through messages and, at least weekly, via video. I also had in my head that it was a temporary situation.
But after more than three years of remote work, the lack of social interaction bothers me heavily. Days seem the same. There's no lunch with friends, no break to go to the bakery with someone during work hours, and no casual conversation with colleagues at the neighboring desk.
When I voice this complaint, the most common response is: "Why don't you try a coworking space?" The experience might be valid. But the impression I have is that I'll be alone anyway, but surrounded by people. I realized that I miss the exchange with bosses and colleagues.
But I never regret the decision I made. Moving to a new city has made me grow and opened up a new world.
During this time, a good job opportunity knocked on my door. But, weighing the pros and cons, it wasn't worth it. The alternative, at least for now, is to continue enjoying the perks of freelancing and investing in a social life outside of work.
Carolina Muniz's critical reflection coincides with the idea of two types of people. I am exactly the opposite: I love being alone at home, don't miss contact with colleagues at work, and enjoy working in cafes "alone in the crowd."
Combating this loneliness at work is not easy. I could make a list of tips, but it would sound unnatural because I don't feel this difficulty (it's not that I don't feel lonely; I don't mind it and spend much time with myself).
However, this doesn't mean that profiles like my former colleague must accept the requirement of in-person work. Even though remote work it's not the perfect model for her, she doesn't regret her decision and may even choose to decline an in-person offer at this time.
This newsletter's essence: fighting for our power of choice. The nomadic life and remote work allow for geographical and schedule liberty.
Paying the price of nomadism or the freelancer lifestyle is not easy, as another colleague, Júlia Flores, mentioned in a recent edition. Planning for it and being able to choose to live wherever you want, as Carolina did, is fascinating.
Versão em português.
Uma jornalista entre a liberdade e a solidão
‘No trabalho remoto, posso montar minha agenda, trabalhar de qualquer lugar e escolher projetos, mas me incomoda a falta de interação social’
Eu já disse algumas vezes nesta newsletter que existem dois tipos de pessoas: as que nasceram para trabalhar remotamente e as que se dão melhor no presencial. Mas e quem foi levado para essa vida meio que por acaso? É esse o relato da jornalista Carolina Muniz que a No Direction Home traz nesta edição.
Trabalhar como jornalista freelancer nunca foi um desejo meu. Por cerca de dois anos, editei uma seção sobre empreendedorismo, mas em nenhum momento tive qualquer vontade de atuar por conta própria.
Sempre gostei do sentimento de pertencimento e da relativa estabilidade que é ser uma funcionária –mesmo em uma empresa de comunicação, com demissões em massa sempre à espreita.
No fim de 2021, ainda em um contexto de pandemia, todos estavam em trabalho remoto, quando surgiu a oportunidade de me mudar para Brasília para acompanhar meu namorado, que havia recebido uma proposta profissional na capital federal. À chefia, propus voltar com frequência para São Paulo, onde fica a sede da empresa, para não perder o contato com a equipe.
Mas houve a exigência de retorno ao modelo 100% presencial e, então, escolhi deixar o emprego. Retomei alguns contatos e passei a atuar como freelancer. Era para ser um plano B enquanto me adaptava à nova cidade, mas já faz quase dois anos que estou nesta.
As vantagens são muitas: montar a minha própria agenda, trabalhar de qualquer lugar, ter liberdade para aceitar ou não um projeto, me aprofundar a cada hora em um assunto diferente, viver uma rotina menos estressante.
Há também desvantagens importantes, como não contar com benefícios trabalhistas e nunca ter completa certeza de quando o próximo trabalho virá. Mas, realmente, o que mais me incomoda é a falta de interação social.
Na pandemia, eu –e todo mundo que teve o privilégio de se manter em home office– já havia experimentado isso. Por um lado, foi mais difícil, pela impossibilidade de sair de casa e de encontrar amigos (além da própria tragédia humana, claro). Por outro, naquele momento, eu ainda fazia parte de uma equipe, com a qual interagia o dia inteiro por mensagens e, ao menos semanalmente, por vídeo. Também tinha na cabeça que aquela era uma situação provisória.
Mas, após mais de três anos de trabalho remoto, a falta de interação social está pesando mais. Os dias parecem iguais. Não tem o almoço no quilo com os amigos, a pausa para ir à padaria com alguém no meio do expediente, o comentário com o colega da mesa ao lado.
Quando faço essa reclamação, o que eu mais escuto é: “Por que você não tenta um coworking?” Acho que a experiência até pode ser válida. Mas a impressão que eu tenho é que estarei sozinha rodeada de pessoas. Percebi que sinto falta mesmo é da troca com chefes e colegas de trabalho.
Mas em nenhum momento me arrependo da decisão que tomei. Ter mudado de cidade me fez crescer muito e me abriu um mundo novo.
Durante esse tempo, até surgiu uma boa oportunidade para trabalhar em uma empresa por aqui. Mas, colocando prós e contras na balança, achei que não valeria a pena. Então, a alternativa, pelo menos por enquanto, é continuar aproveitando o lado bom de ser freelancer e investir na vida social fora do trabalho.
Essa reflexão da Carolina Muniz é muito importante, e coincide com a tese dos dois tipos de pessoas. Eu sou exatamente o contrário: eu amo estar sozinho em casa, não sinto falta desse contato com colegas no trabalho, e adoro trabalhar em cafés “sozinho na multidão”.
Combater essa solidão do trabalho não é mesmo fácil. Eu poderia fazer uma lista de dicas, mas soaria pouco natural, afinal, eu não sinto essa dificuldade (não é que eu não sinta a solidão, só não me incomoda, passo a bem tarde comigo mesmo).
Mas isso não significa, porém, que perfis como a da minha ex-colega de Folha tenham que aceitar a exigência do trabalho presencial. Mesmo não sendo o modelo perfeito para ela, a jornalista não se arrepende da decisão e até pode escolher recusar uma oferta presencial neste momento.
Isso é o cerne desta newsletter: lutar pelo nosso poder de escolha. A vida nômade e a vida remota permitem escolhas geográficas e de horários.
Pagar a conta do nomadismo ou da vida de freelancer não é fácil, como contou outra colega, a Júlia Flores, em edição recente. Programar-se para isso e poder escolher morar em Brasília, como fez Carolina, é fascinante.